domingo, 18 de dezembro de 2011

~* Deixando o mundo surreal!

Chega! Deu pra mim... não vou mais viver isso que tô vivendo... Cansei de esperar, de sonhar com uma coisa que tá tão longe do meu alcance... Existe um velho ditado que diz: "Quando um não quer, dois não brigam". E eu digo: "Quando um não quer, dois não se realizam". Deixando aqui o mundo surreal, e caindo na real!

~* Suas lágrimas já não me causarão sentimento algum...

Você sabe que nunca encontrará ninguém igual a mim, mesmo assim você vai insistir em continuar procurando, mas você nunca vai achar. Então quando você cansar de procurar eu não estarei mais aqui como sempre estive, e ai você vai ver que todo esse tempo de procura foi em vão, pois a pessoa certa pra você, sempre esteve ai, pertinho do seu olho e você deixou escapar. E agora todo orgulho que você sentia vai desaparecer, e você apenas vai se humilhar pra ter de volta o que não mais te pertence. Só lamento, porque eu estarei feliz com alguém que soube aproveitar tudo que eu tinha pra te dá, enquanto você estará saindo de uma a uma buscando um pouco do muito que tinha comigo. E vai chorar, mas suas lágrimas já não me causarão sentimento algum...

~* Eu apenas quero vida real.

Eu queria ser durona quando necessário. Eu queria ser firme quando preciso. Eu queria não gostar das pessoas que me fazem sofrer. Eu queria parar de sonhar tanto, de acreditar tanto, de me iludir tanto. Tudo bem que os emotivos vivem bem mais, mas os emotivos também sofrem bem mais. Eu queria ser racional, daquele tipo errou comigo, adeus. Eu queria ser do tipo que não se importa com quem não vale... a pena. Eu queria ser menos chorona e mais mulher fatal. Ninguém gosta de muito agrado e eu não sei porque insisto nisso. Tudo bem, já vivi, já me emocionei, já presenciei coisas maravilhosas. Mas chega de sonhos, embora eu seja uma eterna sonhadora, eu estou cansada de sonhos, de fantasias, de utopias. Eu quero algo ue me faça vibrar, só coração acelerado não me basta mais, eu quero coração realizado. Chega de relembrar maravilhosos momentos, eu quero poder vivenciá-los quando eu quiser e bem entender. Eu prefiro poucas fotos e mais ações, quero menos telefonemas e mais sussurros...E quero agora!!! Chega de ficar relembrando passado e sonhando com futuro. Eu apenas quero vida real.

~* Só quero o que é concreto...

Não estou sofrendo. Não mais. Superei isso tudo. Chorei. Chorei sim. Sofri. Sofri sim. Mas parei e vi que a sua "troca" foi infeliz e motivada por desilusão. Você pode até achar que tá legal e tudo mais, mas no fundo sabe o que sente de verdade. Talvez você tenha escolhido ELA por ser o oposto do que eu sou. Talvez porque o estilo dela seja mesmo o que você gosta. Mas agora... Descobri que sou mais...eu. Ainda que eu te ame, eu me amo mais e depois de inverter posições, me coloco em primeiro lugar na minha vida. Estou apenas buscando conhecer novos caminhos, pessoas e ações. Novidades, você sabe, é tudo que sempre precisei e sempre me fez bem. Um dia, sei que vou olhar pra trás e descobrir que toda essa dor e sofrimento que senti me fizeram amadurecer, me trouxeram lições e me fizeram receber o melhor de Deus pra minha vida. Ontem te liguei, mas você não atendeu. Talvez porque ela estava com você. Mas isso não me importa. Só queria te contar o quanto estava feliz. Agora, nem faz sentido dividir minha felicidade com você mais. Talvez isso seja demais pra você. Talvez você já nem me importa mais. Talvez, os talvez nem me importem mais. Só quero o que é concreto, e que seja, de preferência eterno. Como você não foi.

domingo, 11 de dezembro de 2011

~* Disfarçar a dor é dor ainda maior.

Há sempre o momento de pedir ajuda, de se abrir, de tentar sair do buraco. Mas, antes, é imprescindível passar por uma certa reclusão. Fechar-se em si, reconhecer a dor e aprender com ela. Enfrentá-la sem atuações. Deixar ela escapar pelo nariz, pelos olhos, deixar ela vazar pelo corpo todo, sem pudores. Assim como protegemos nossa felicidade, temos também que proteger nossa infelicidade. Não há nada mais desgastante do que uma alegria forçada. Se você está infeliz, recolha-se, não suba ao palco. Disfarçar a dor é dor ainda maior.

~* Sim, tudo é passageiro...

Nossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório, e buscar um porto seguro é antecipar o fim: a única segurança está na morte, será ela nosso único endereço definitivo. Durante o percurso da vida, tudo é movimento, surpresa e sorte...

~* Nossa verdadeira identidade!

Todo dia a gente perde um pouquinho da nossa identidade por causa de medos padronizados e cobranças coletivas. Antes de descobrir qual é a nossa turma - seja a turma dos bem-sucedidos, dos descolados, dos espertos - é bom estar agarrado ao que nos define, e isso a gente só vai descobrir se estiver em contato com nossos sentimentos mais primitivos. Não é preciso ir ao Alasca, não é preciso radicalizar, mas manter-se fiel à nossa verdade já é meio caminho andado.

~* Deixei a porta aberta e você entrou...

...Ou será que abri a porta justamente para você entrar, invadir ou chegar? Sua falta de jeito com a delicadeza era parecida com a minha e achei tão bonitinho isso. Nem grosso demais e nem polido demais, porque pisar em ovos é um saco. Não te pedi nada, só que me tratasse bem. Até hoje não te cobro e nem peço nada que seja esquisito demais ou dê muito trabalho. Não grite comigo porque eu também sou pavio curto. Respeite minha preguiça matutina e eu entro no seu ritmo também preguiçoso. Conte suas novidades, faça massagens nos meus pés e não tenha medo de quem toma calmante pra dormir. Virei presa fácil, barata até, você se esforçará pouco para me ter para sempre. Acredite quando eu digo que é melhor com você. Não duvide do que eu digo mas prometo que se a verdade for chata, feia e boba, eu escondo. Não me conte as suas tristezas porque eu também disfarço as minhas. Prometo segurar o choro, mas se ele vier, fica do meu lado, segura a minha mão. Tem hora, que nem hoje, que eu só preciso que você segure na minha mão e diga as coisas de que gosto de ouvir. Vou te achar o máximo. Não se vista tão bem... gosto de camisa pra fora da calça, gosto de braços, gosto de pernas e muito de pescoço. Leia, escolha seus próprios livros, releia-os. Odeie a mesmice, xingue a vida doméstica e também os agitos noturnos. Seja um pouco caseiro e um pouco da vida. Não seja escravo da televisão, nem xiita contra. Nem escravo meu, nem filho meu, nem meu pai. Escolha um papel para você que ainda não tenha sido preenchido e o invente muitas vezes. Me enlouqueça não ligando de vez em quando. Mas me faça uma louca boa, uma louca que ache graça em tudo que rime com louca: loba, boba, rouca, boba... Goste de música e de sexo. Goste de um esporte não muito banal. Não invente de querer filhos, me carregar pra a missa, apresentar sua família...isso a gente vê depois...Nunca deixe eu dirigir o seu carro, diga que não confia, só pra eu ficar meia hora com raiva de você. Seja só um pouquinho canalha e olhe para outras mulheres, tenha amigose digam muitas bobagens juntos. Me trate como uma rameira, mas só quando estivermos deitados. No dia-a-dia fale palavras doces, principalmente hoje. Não me magoe com ironias porque não sou nem um pouco altruísta e posso sentir raiva por ter deixado a porta aberta.

~* Quem está no comando dentro de nós?

Estou tão cansada. Quase não tenho força. Hoje estou naqueles dias em que dá vontade de dormir e acordar dez anos depois. Você já ouviu falar em sono reparador? Queria dormir e acordar dez anos mais linda e dez anos mais burra. Interessa a você saber que estou apaixonada? Impressionante como essa palavra acorda os outros. Eu estou apaixonada, mas não é por uma pessoa. Estou apaixonada pela lembrança de algo leve, solto e rápido, como uma bola de gás que escapa da nossa mão e passa a ficar cada vez menor e mais distante. Estou apaixonada pelo impacto da vida, por um tiro certeiro e bem mirado, pelo arrebatamento provocado pelo descuido das minhas defesas. Quem está no comando dentro de nós? Andei flertando com o perigo e no entanto o perigo estava dentro de mim, dentro desse coração que empacou nos 15 anos, aquela época em que eu era uma velha e acredita no amor. Toda mulher romântica é uma idosa. Não acredito que eu tenha caído nessa cilada, me apaixonar por uma situação. Por que não estou apaixonada por alguém, estou apaixonada por algo. Algo completamente inatingível. Estou apaixonada por marcar encontros, por receber mensagens safadas, e-mails, por estacionar olhando pros lados, temendo ser reconhecida. Apaixonada por entrar no apartamento de um estranho, por tirar a roupa, por gozar com um estranho. Apaixonada por aquilo que inspira os filmes B e os romances vendidos em banca. Quem está no comando, me diga? É claro que ele tem rosto, nome e sobrenome. Mas isolado, longe do cenário, ele não me comove. Ele é o xerife que dá liberdade condicional ao meu lado fora-de-lei. Se o xerife desiste da brincadeira, ela precisa voltar para a sua prisão domiciliar. Não me venha falar de outros namorados, não me interessa uma transferência imediata, seria simplista demais. Quero o circo todo que tenho direito: sedução, fantasia, tempo. Quero um romance longo, quero intimidade. Fazer cena de ciúme, terminar, voltar, amar, brigar de novo, telefonar, pedir desculpas, retornar. Amantes bem comportadas são um tédio. Se eu tivesse no comando, pinçaria do meu caderninho meia dúzia de frases que liquidaram a questão. "Foi bom enquanto durou". "O destino sabe o que faz". "Tudo tem seu preço". "O show deve continuar". Este tipo de clichê. Mas quem está no comando é ela, a que não quer voltar pra cela. Rebelião no presídio feminino: ela fugiu do meu controle. Ela é romântica como uma adolescente. Ela chora como uma menininha. Cria diálogos tão convincentesdurante suas madrugadas insanas que chega a acreditar que eles aconteceram. Viajadora. Doce. Àspera. Ela me enlouquece. Ela determina a hora de voltar pra casa, e eu aguardo por ela com uma ansiedade quase sexual. Quem está apaixonada? Ela por ele? Eu por ela? Ou tudo não passa de um sentimento solto, sem dono, caçoando de todos nós?

~* A tal da química...

Todo mundo sonha com aquele beijo made in Hollywood, que tira o fôlego e dá início a um romance incandescente. Pena que nem sempre isso aconteça na vida real. O primeiro beijo entre um casal costuma ser suave, investigativo, decente. Aos pouquinhos, no entanto, entre cinco minutos depois do primeiro roçar de lábios até, no máximo, cinco dias. Neste espaço de tempo, ainda compreende-se que os beijos sejam vacilantes: tratam-se de duas pessoas criando um vínculo e testando suas reações. Mas se a decência persistir, não espere ver estrelinhas na etapa seguinte. A química não aconteceu.

~* Sofrimento cansa...

É uma dor tão recorrente na vida de tantas mulheres e tantos homens, é assunto tão reprisado em revistas, é um sofrimento tão clássico e narrado em livros e filmes e canções, que mesmo que eu não lembrasse, lembrariam por mim. É uma dor que se externa. Uma dor que se chora, que se berra, que se reclama. Uma dor que tentamos compreender em voz alta, uma dor que levamos para os consultórios dos analistas, uma dor que carregamos para mesas de bar, e que vem junto também para a solidão da nossa cama, para o escuro do quarto, onde permitimos que ela transborde sem domínio e sem verbo. A dor massacrante do abandono, da falta de telefonemas, da falta de beijos, da falta de confidências. No entanto, perde-se o homem, perde-se a mulher, mas o amor ainda está ali, mesmo sendo deflagrador do vazio. Por mais estranho que pareça, há uma sensação de pertencimento, algo ainda está conosco. A saudade é uma presença. Então vem a etapa seguinte. Essa não é tão divulgada, tem-se por ela mais respeito e menos informação, pois é vivida em silêncio. O que acontece é que tem uma hora em que ninguém mais aguenta ouvir a gente entoar nossa sina, lamentar nossa má sorte, procurar explicações sem fim. É quando a gente se dá conta de que já abusou da paciência dos amigos, dos familiares, e cala. Sofrimento cansa. Não só cansa aquele que sofre, mas cansa aqueles que o assistem.

~* Porque não sabemos amar?

Não consigo imaginar nada mais satisfatório do que amar, e mesmo não sabendo o que o amor significa, sei o que representa. É o que nos faz, no meio da multidão, destacar alguém que se torna essencial para nosso bem-estar, e o nosso para o dele. É receber uma atenção exclusiva e ofertá-la na mesma medida. Ter uma intimidade milagrosa com a alma de alguém, com o corpo de alguém, e abrir-se para essa mesma pessoa de um jeito que não se conseguiria jamais abrir para si mesmo, porque só o outro é que tem a chave desse cofre. O amor é uma subversão, e seu vigor nunca será encontrado em amizades ou parentescos. Todas as palavras já foram usadas para definí-lo: magia, surpresa, entrega, completude, requinte, deslumbre, sorte, conforto, poesia, aposta, amasso, gozo. Amar prescinde de entendimento. Por isso não sei amar, porque sou viciada em entender.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

~* Amar não é sofrer!

A frase que dá título a esta crônica é óbvia, mas milhares de pessoas não levam a sério e vivem relações absolutamente torturantes sem conseguir rompê-las. Homens e mulheres preferem abrir mão da própria liberdade para continuarem sendo "amadas": deixam de ser quem são, deixam de externar suas opiniões, deixam de ser elas mesmas para não perderem seu amor, perpetuando assim uma relação esgotante e dolorosa. Acreditam que amar é ser vítima, que o flagelo emocional faz parte do romance, 20% a 30% da população têm um transtorno extremo de personalidade e, se considerarmos os casos moderados, a porcentagem aumenta. São os narcisistas, paranóicos,esquizóides. Pessoas de bem, que trabalham, apaixonam-se, casam e têm filhos, mas que são obcessivos, desconfiados ou agressivos num grau muito superior ao que se considera razoável. A literatura psicanalítica tem se debruçado com seriedade sobre esses perfis e sobre as dificuldades que enfrentam, mas pouco se fala sobre seus parceiros: maridos e esposas que têm uma mente razoavelmente sã e que passam por verdadeiras torturas emocionais no convívio íntimo. O amor caótico inspira livros, filmes, letras de música e quase sempre tem alta carga de erotismo, o que provoca a fantasia de milhares de casais que se arrastam em seu feijão com arroz conjugal. A princípio, viver um amor explosivo parece uma sorte, e não um castigo, só que depois do princípio vem o durante, e esse durante é que enlaça, prende e machuca. Encerrada a euforia inicial, instala-se a rotina exasperante de uma relação doentia, que passa longe da satisfação. Claro que é preciso o esforço de ambos em busca de um ajuste, mas se depois de todas as tentativas ficar claro que a única forma de continuarem juntos é um dos dois se anular e deixar-se consumir, aí é hora de saltar desse trem em movimento. Não é fácil. Aliás, não é nem difícil, é aterrorizante, pois, não esqueçamos, estamos falando de relações onde ainda existe amor. Nada disso é poético, apenas realista. Amor e dor rimam em samba-canção, mas, aqui fora, na vida que se vive, não precisa ser assim. Amar tem que ser uma prática alegre, construtiva, produtiva. Sem neuras, sem esgotamento. Concessões fazem parte dos relacionamentos, mas sacrifícios, quem disse? Há quem tenha sua energia vital sugada por um vampiro que se delicia com o sangue da sua presa. Não é justo. Melhor deixar as ilusões de lado e seguir caminhando. Outro amor pode estar mais adiante, na próxima porta.

~* O cartão...

Eu tinha dezoito anos e era louca por um cara com quem trocava olhares, não mais que isso. Ele era olegítimo "muita areia pro meu caminhão" e jamais acreditei que pudesse vir a ser interessar por mim, o que me deixava ainda mais apaixonada, claro. Mulher adora um amor impossível. Então chegou o dia do aniversário. No final da manhã eu estava em casa, contando os minutos para uma festa que daria à noite, quando a empregada apareceu com um cartão nas mãos, dizendo que o zelador o tinha encontrado embaixo da porta do prédio. Abri e fiquei azul, verde, laranja: era dele! Corri para o telefone e liguei para a minha melhor amiga. " Que trote bobo, você quase me mata de susto, pensa que não sei que foi você que escreveu o cartão?" Ela jurou por todos os santos que não. Liguei para outra amiga. "A letra é igual a sua, eu sei que foi você!" Não tinha sido. Liguei para outra: "Você acha que eu vou acreditar que um cara lindo que nunca me disse bom dia veio até aqui largar um cartão amoroso desses?" Ela me recomendou terapia. Bom, diante de tantas negativas, só me restou pensar: "Outra hora eu descubro quem é que está tirando uma comigo". E esqueci o assunto. Semanas depois estava caminhando na rua quando encontrei o dito cujo. Ele resmungou um oi, eu devolvi outro oi, e então ele perguntou se eu havia recebido o cartão de aniversário. Minha pressão caiu, minhas pernas fraquejaram, eu só pensava: mas que idiota eu fui! O que iria responder? "Recebi, mas jamais passaria pela minha cabeça que um homem espetacular como você, que pode ter a mulher que escolher, fosse entrar numa papelaria, comprar um cartão, escrever um texto caprichado, depois descobrir meu endereço e então pegar o carro, ir até a minha rua, colocar o envelope embaixo da porta feito um ladrão, e aí voltar para casa e aguardar meu telefonema. Olhe bem pra mim, eu não mereço tanto empenho". Respondi: "Que cartão?" Ele soltou um "deixa pra lá" e foi embora se sentindo o mais esnobado dos homens. E assim terminou uma linda história de amor que nunca começou. Anos depois nos encontramos casualmente e tivemos um rapidíssimo affair, mas aí já não éramos os mesmos, não havia clima, ficamos juntos apenas para ver como teria sido se. Vimos. E não escutamos sinos, não fomos flechados pelo Cupido. Cada um voltou ara a sua vida e nunca mais tivemos notícia um do outro. Contei essa história para um amigo outro dia e ele comentou que conhecia outras mulheres assim. Epa, assim como? Ora, assim medrosa, desconfiada, temendo pagar micos diante da vulnerabilidade que toda paixão provoca. Ele estava certo. Era assim mesmo que eu me sentia aos dezoito anos: medrosa e incapaz de levar um grande amor adiante. Quando recebi o tal cartão, deveria ter ligado imediatamente para o meu príncipe encantado para agradecer e convidá-lo para a festa. E se ele tivesse dito: "Que cartão?" Eu responderia: "Deixa pra lá, mas venha à festa assim mesmo". E então assumiria as consequências, não importa quais fossem. O nomezinho disso: vida. É sempre uma incógnita, portanto não vale a pena tentar fugir das decepções ou dos êxtases, eles nos assaltarão onde estivermos. Se você for uma garota boba como eu fui, acorde. Ninguém é muita areia pra ninguém. Pessoas aparentemente especiais se apaixonam por outras aparentemente banais e isso não é um trote, não é uma pegadinha, não é nada além do que é: um inesperado presente da vida, que todos nós merecemos.

~* Uma mulher mais feliz e realizada...

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais". Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: "mas agora eu to comendo um lanche com amigos". Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe se eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não voltava pra mim? Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinh que voltar pra mim de qualquer jeito. Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz consigo mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou leonina e filha única. Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher pra ele, só assim ele voltaria pra mim. Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo milhares de lugares geniais, controlando meu pânico de estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e nem sinal de vida. Aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres e rezei pra Santo Antônio umas 1.000 vezes. Como última cartada para ser melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Afinal, ele quem mesmo?