quarta-feira, 22 de maio de 2013

~* Eu estava certa...

Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa merda toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar. Percebe a loucura? É como se ninguém pudesse me amar e ponto, de tanto colarem o adesivo de “trouxa” na minha testa, qualquer carinho me parece suspeito. Percebe a tortura? Fico oscilando entre confiar e desconfiar, querendo viver uma história leve e sempre me afundando nas minhas neuroses e cicatrizes. E homem nenhum aguenta isso, homem nenhum percorre meu labirinto até o fim. Mas como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente? Quero alguém que rompa meus lacres, não que me lacre mais! E sigo estragando tudo, só pra não ficar pior depois. Quando eles finalmente se cansam e caem fora porque eu sou louca de pedra, eu fico satisfeita. Volto pra fossa por um tempo, sem mistérios, já conheço bem o lugar e a porta de saída. E penso, “Viu, sabia que eu estava certa”.

~* Vício de Amor

Viciada. Era isso, no mesmo estado de qualquer dependente químico, que faz o que for preciso pra sentir o efeito da droga mais uma vez. E tem crise de abstinência, alarmes falsos de cura, recebe ajuda e não quer, “tô bem, posso controlar, eu juro”. Mas não posso. Aliás, não como qualquer um, eu já sou de um estado avançado. A doce sensação só por uma última vez, que nunca é a última de verdade. Só que a minha droga é o amor. E como se reabilita de um coração compulsivo? Acho que não se reabilita, se rende. Foi o que eu fiz. Porque o embrulho no estômago de uma partida me parece mais saudável, confortável e familiar do que um estômago vazio. Odeio vazios. Por isso transbordo e quase sempre afogo quem não sabe nadar. Que se dane, falha deles, falha de toda uma cultura que acha que “é melhor pecar por falta, do que por excesso”. Odeio faltas. E a gente nasce programada a preferir vazios a qualquer sensação estranha ou que não seja muito cômoda. Bando de covarde. Foi por isso que me viciei. A minha droga se tornou ilegal, não é bem aceita, é pouco procurada e alvo de olhares tortos, dedos apontados, julgamentos. Mas já era, viciei. Não consegui viver de doses homeopáticas, porque só ela me livra de toda uma sociedade, de todas as histórias mal vividas, da loucura da vida, de mim. Só assim eu me derramo pelo mundo, marco fundo, alcanço o céu e sou livre, enfim. E todas as vezes de desespero, que me injetei desapego, nunca expulsaram todo esse amor de mim.