quarta-feira, 29 de outubro de 2014

~* Dona de mim

Tenho estado mais quieta. Mais centrada. Tenho traçado novas metas. E tenho me empenhado (muito diga-se de passagem) para fazer tudo seguir o fluxo normal. Não quero colocar tudo a perder por um deslize que seja do coração. É. Estou sendo mais racional agora. Dá até vontade de rir, porque é tão contraditório silenciar meu coração, mas eu precisava. Não quero mais misturar as coisas. Não posso mais me envolver em pedaços de rascunhos que nem sempre prosseguem numa nova história. Acho que me fechei dessa euforia toda de ficar conhecendo e desconhecendo pessoas. De ficar promovendo encontros, descobrindo afinidades e ver tudo ir ralo abaixo porque estamos conjugando os verbos em tempos diferentes. Não quero ser o passatempo ou o deslize do fim de noite. Não estou procurando, até porque me convenci que essas coisas acontecem e é isso que tenho feito, tenho deixado me encontrar. Não quero mover mundos para ir de encontro ao casual ou experimental. Matar carência é diferente de estabelecer uma nova relação. Não dá para trocar figurinhas e depois esperar que a pessoas seja a forma perfeita de todas as idealizações malucas que colecionamos pela vida a fora. Não cola e frustra demais. Tenho faxinado o coração, tenho me permitido ao novo, mas não perco tempo com o que não me acrescenta. E não adianta dizer que sou careta, se não me faz sentir um arrepio que seja, eu descarto. Não quero uma vida morna, sem graça, sem adjetivos e superlativos. Tenho estado mais quieta, mais dona de mim.

~* Dois corações e um leque infinito de possibilidades...

Vieram me dizer que a 'culpa' por não estarmos mais juntos, foi minha. Tudo bem. Lá se foram quase seiscentos e sessenta e cinco dias longe de você tentando prosseguir com a minha vida sem esperar demais dos meus ombros, e pronto: o peso chumbo volta a me assombrar. É fácil olhar pra nós dois e dizer que a culpa foi minha. Cabia a mim batalhar por nós dois, não é verdade? Era minha missão afogar o que eu acreditava e ceder a todos os seus caprichos, por mais machistas que eles fossem. A culpa foi minha por não ser a bonequinha que você coloca na estante e usa quando tem vontade. A culpa foi minha por querer alçar voos altos e enxergar além do quadradinho perfeito que desenhamos. Ok. A culpa foi minha por ser teimosa, por ser birrenta, por saber o que eu já queria e por cobrar tanto de você. Não me isento disso não. Eu pegava no seu pé mesmo, eu cobrava ações e atitudes mesmo. Não era fácil estar ao meu lado. Mas quer saber, era esse lado todo auto suficiente que fez você me olhar diferente, que fez você querer estar ao meu lado. Foi esse lado impulsivo que nunca mede as consequências que te trouxe pra perto. Foi. Mas deu no saco, não é? Não controlar o que eu quero, quem eu sou, para onde vou. Dá trabalho e irrita, não é mesmo? Não ser o centro do meu universo tempo integral acabou sendo assustador, não foi? Pois bem, admita sua parcela de culpa. Pegue seu punhado nos pesos e engole a seco pra variar. Vasculha nas suas rachaduras o quanto que deixou de falar, de sentir, de viver por medo. Medo de se entregar, medo de ir além, medo de não poder se controlar. Medo de ser humanamente normal e vulnerável a alguém. Injeta essa dose extra de nostalgia na veia e refaça os nossos caminhos. Não foi fácil dar um fim na nossa história, se levarmos em consideração o tanto de vezes que você só colocou um ponto e vírgula fica ainda pior, por isso me aborrece tanto essa parcela de culpa que não resolve nada. Que não transforma o enredo, que só ameniza um lado dessa situação compartilhada. Se é para eu carregar a culpa de não ter dado certo, que você carregue a culpa de não ter feito nada para mudar isso. Uma relação não se faz sozinha. Não se transforma sozinha. São dois corações, quatro mãos e um leque infinito de possibilidades. Se vai me culpar, olha pra você também.

~* Cicatrizando a ferida...

Eu quis desacelerar. Quis puxar o freio de mão. Procurei o botão de liga e desliga e nada. Não havia escape. Não havia placas sinalizando o caminho certo. Eu fiquei perdida. Fiquei deserta nas emoções avessas que consumiam a minha razão. Eu só queria ter certeza que tudo ficaria bem. Abri mão de muitas coisas, deixei passar oportunidades para me moldar no que julgava ser o melhor para mim. Eu já não sei se era preguiça de me refazer quando tudo desse errado ou só descrença de que de fato estava me fazendo bem estar ali. Sou daquelas que acredita que quando tá tudo em ordem você não se põe a prova ou cai na dúvida. Se desconfia é porque algo está fora do lugar. Nem sempre solto no ar, mas solto em algum canto dentro da gente. Eu não queria me frustrar outra vez por não ter agido na hora certa ou por não ter corrido atrás por orgulho bobo, entende? Eu deixei tantas lacunas em aberto para não pisar no calo alheio e ouvir o que eu não precisava ouvir. Cabeça quente não combina com grandes decisões e talvez por isso eu tenha aprendido a finalizar os meus receios sem contar necessariamente com o ponto final desenhado do outro. Se não rende, se não corresponde, eu mesmo vou lá e cicatrizo a ferida. Não é fácil, mas é preciso. Não alastro os meus dias com reticências descabidas de quem ainda não se encontrou. Isso machuca e acaba estragando as boas lembranças; Eu sou exagerada demais para abafar os ecos que gritam dentro de mim. Não consigo. Eu tento, mas o máximo que garanto é o coração na boca pronto para explodir. Não quero ser refém das minhas escolhas, da mesma forma que não quero ser espelho das minhas pressas. Só tenho tentado respirar sem causar maiores estragos.

~* Amor fantasma...

Eu passei daquela fase maluca de ficar indo atrás. Não é orgulho. É um misto de amor próprio e bom senso. Não acredito que o amor deva ser implorado. Dessa forma não me obrigo a correr atrás de quem não quer ficar. Se não há interesse de ambas as partes em consertar, pra quê apelar? Ficar com alguém por pena ou gratidão pelos anos (já) vividos é jogar a própria felicidade pela janela. Você se frustra por não alçar novos voos e culpa o outro por isso. Com o passar do tempo a gente entende que quando a disposição de ficar juntos passa, o mais digno que podemos fazer é seguirmos separados. O amor quando morre machuca, mas quando ele não existe mais e você insiste em amar por dois o abismo da dor é ainda maior. Olhar pro lado e saber que não é recíproco fere a alma. Obrigar alguém a permanecer é ser infeliz para sempre.

~* Amor em conta-gotas!

Eu me viro do avesso pra te encontrar e ninguém entende. Saio da minha zona de conforto, te procuro e me esforço. Eu vou até você. Sem precisar fazer a linha blasé, eu me rendo em parcelas e o mais disfarçadamente que sou capaz. Em troca, ganho paz. Minhas amigas acham um absurdo e diagnosticam, sem dó, piedade, ou meias palavras, que você só tá há muito tempo sem comer ninguém e por isso me procura. Diagnóstico que não me abala, porque em momento nenhum eu deixei de viver a minha vida em prol desse sentimento intruso e com rugas. Eu sorrio porque tá tudo bem, não preciso de nada a mais que você no conta-gotas. Você em doses homeopáticas, pra nunca ser em excesso. Pra nunca perder o efeito de tudo isso em mim. Gosto da gente com recesso. Quero beber você no gargalo, quietinha, e guardar na geladeira, pra que todo mundo que te bote no copo, te beba com vestígios de mim.

~* Mas ainda te odeio da boca pra fora, e te sinto da boca pra dentro!

Moço, eu poderia dizer que tudo não passou de um sonho bom que acabou. Poderia dizer que o conto de fadas perdeu a graça e que numa bela manhã de outono resolvemos florir em outros cantos. Eu poderia dizer pra todo mundo que nossos sonhos não combinavam mais e que havia a tal incompatibilidade de gênios. Mas diz, o que isso iria mudar a nossa vida? Boca pra fora a indiferença declarada, boca pra dentro o coração queimando com a incerteza de saber se aquela dor iria passar ou não. Eu poderia ter dito que perdi tempo ali, escrevendo história, fazendo planos, sonhando alto enquanto a lua envolvia e o seu sorriso me direcionava. Eu poderia dizer que as noites que passei em claro confidenciando meus medos e de certo modo sanando minhas angústias foram em vão. Eu poderia dizer que seu abraço nunca me preencheu, que sua instabilidade foi o estopim para o fim. Poderia dizer que sua insegurança era o adubo pro desgaste e que entre seu ciúme e sua mania absurda de tentar controlar tudo nos perdemos. Mas não. Pra quê tirar a cor do amor que até ontem fez os meus olhos brilharem? Pra quê negar a vontade que tive de colecionar o para sempre com você? Pra quê me fazer de forte se ainda lembro do seu sorriso e o timbre da sua voz ainda me tira do eixo? Eu poderia dizer muitas coisas que mudariam a forma de ver você. Mas eu ainda te odeio da boca pra fora. E ainda te sinto da boca pra dentro.

~* O preço da poesia...

Em meio aos meus rascunhos você não dói tanto quanto na realidade amarga que a vida me enfia goela abaixo. Não dói sentir você em meio aos versos, não me atrapalha vê-lo em parágrafos começados seguidos de entusiasmo e reticências. Não custa. Não machuca. Alivia o burburinho que se aloja no coração e só. Na realidade prática, onde a poesia não impera, tudo é diferente. Você se transforma no vilão. Rouba o meu equilíbrio e nunca (cor)responde aos meus porquês. Não consigo filtrar o que é certo e o que é errado. Acabo andando em círculo por horas a fio até desligar você do meu pensamento. Nunca é pretérito, sempre tem um quê no presente que te resgata mesmo quando eu não quero. Chega a ser vício. E isso me preocupa. Os vícios não fazem bem. Adiam a felicidade. Jogam a paz pela janela. O vício machuca. Afugenta as certezas. É. Este é o problema da poesia, tudo ganha cor, tudo ganha brilho e intensidade, mesmo que na realidade custe um coração atropelado e um juízo desajustado.