segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

~* Reciprocidade

Eu queria esclarecer um grande mal entendido: a incansável busca das mulheres não é pelo cara perfeito. É pela reciprocidade. E a grande batalha não é contra os homens ou contra as supostas adversárias. É contra nós mesmas. Batalha bruta, guerra sangrenta e com muitos corpos pelo chão. O desânimo do "É sério? Não consigo querer ele nem um pouquinho? É realmente sério que eu tô fazendo isso de novo?" e o cansaço escapa em forma de suspiro. Colocar um cara maravilhoso na Friendzone dói mais na gente do que em vocês, podem acreditar. É uma sensação de impotência misturada com sadomasoquismo. É sentir milhões de tapas na cara, vindos de mim mesma. Por muitas vezes, eu fechei os olhos e desejei com todas as minhas forças que a minha pele reagisse. Que o beijo se encaixasse e o olhar me tirasse o chão. Eu fiz força pra querer, fiz força pra gostar, fiz força e fiz força. E quando abria os olhos era sempre a mesma coisa: vontade de ir embora e uma culpa que me embrulhava o estômago, por violentar os sentimentos. Assim como, por incontáveis vezes também, eu lutei pra sufocar cada poro do meu corpo, que gritava, pedia e implorava pelo corpo de gente que já chegou na minha vida me explicando, com uma maquete, que era encrenca e ia me fazer sofrer. Eu sei lá, tem gente que entranha na gente. E gente que o nosso corpo estranha. Expulsa. Mas aí é questão de organismo, você entende? Ou você gosta de alho ou não gosta. Não interessa se faz bem pra saúde, cabelo, pele, evita câncer, deixa imortal... Se você gosta, é maravilhoso e tempera tudo. Eu, como não gosto, tenho ânsia de vômito. E, se enfiar garganta abaixo, eu boto pra fora. Evito. E friso: mais por eles do que por mim. Ninguém merece ser vomitado assim.

~* Quase não te amo...

Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro. Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não morro com a sua presença. O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.

~* Amor é tudo o que tenho para dar!

O amor, abusado e espaçoso, que entra sem bater na porta e se instala é o mesmo amor, egoísta, que vai embora e leva tudo com ele. Leva o que ele construiu, o que já encontrou pronto e leva – principalmente - todos os espaços entre os dois ex-amantes. Veja só, não coube sermos amigos, não couberam programinhas num fim de semana parado. O clima pesado de te olhar e não te pertencer me angustiava, o alívio de estar feliz por estar fora de nós me esmagava. Acho que o fim de nós, também rompeu os laços, quem diria? Sempre acreditei que não. Sempre preservei a ligação especial que a gente tinha, apesar e acima de qualquer outra coisa. Mas a ligação se desligou, é uma pena. Um pouco triste nosso tudo ter se transformado em coisa tão pequena, numa história pra contar. E, hoje em dia, nem me soa como uma história bonita. Que ironia. Tanto estrago e tanto grito pras paredes. Tantas palavras que cortavam mais do que a navalha mais afiada desse planeta. Viramos cicatrizes. Odeio não ser capaz de começar a falar de você, sem terminar falando de dor. Mas não te odeio não, viu? Queria dizer que te perdoo, de verdade. Talvez não por merecimento seu, mas pelo mesmo motivo que perdoei todos os outros e vou perdoar todos os próximos: porque amor é tudo que eu tenho pra dar. Porque só sentimentos bons ficam guardados no meu peito. Se você foi um imbecil, tudo bem, foi, tá feito. Mas sou tão amor, que sou incapaz de odiar.

~* Sensibilidades à flor da pele...

Dizem que sensibilidade demais atrapalha. Que expor o que sente é estar vulnerável demais ao outro. Agora me explica, como é que se vive feliz engasgando emoções e sentimentos? A gente se mata um pouco por dia para ser igual a quem adia a felicidade de se traduzir nas vontades que se fazem colorir? Não aprendi a esconder o meu sentir, transbordo com muita facilidade. Os olhos brilham mais, o sorriso se desenha de ponta a ponta. É um carnaval fora de época controlando o meu corpo. É descompasso que vale a pena, frio na barriga que compensa a ausência de razão. Ser sensível demais, me faz ser corajosa para viver nessa selva de gente rasa e medrosa.

~* Apenas um sapo enfeitiçado!

Os homens que mais fazem a cabeça das mulheres não são os cheios de músculos, nem os que têm porte de artista. Estes chamam atenção de mulheres inexperientes, que selecionam os homens superficialmente. Estou falando da maioria das mulheres, as que aprendem cedo, afinal, as mulheres amadurecem mais rapidamente que os homens. Falo das que conhecem seu corpo, sabem o que querem, que já não se contentam com conversa mole nem com promessinhas adolescentes. Uma mulher, uma mulher de verdade, com "M" maiúsculo, ela prefere um homem que ri de seu bom humor, que acha humanamente normal seus defeitos, que respeita suas necessidades. Ela prefere dividir a conta com um cara gentil, do que passar a noite ao lado de um cabra mal educado e estúpido. "Ah Patty, mas eu não ligo pra carinho": meu bem, a maioria espera sim, e se frustra com isso. Uma mulher que entende do riscado, ela valoriza um homem perfumado, que cuida do corpo, que estuda, que lê. Um homem quanto menos invasivo, mais profundo ele é. Quanto mais delicado, mais sexy. Quanto mais despretensioso, mais instigante. Até a mais desapegada e descoladinha, fica de perninhas bambas diante de um homem gentil e simples. Eu disse "simples", não relaxado. A gente não gosta de homem fresco. A gente se amarra num cabra macho. Normal, sem não-me-toques. Simplesmente macho. A gente se encanta com um belo sorriso. A gente valoriza parceria. Fugimos dos problemáticos. Depois que uma mulher aprende a reconhecer um homem de verdade, ela não se encanta mais com qualquer sapo enfeitiçado.