quarta-feira, 27 de novembro de 2013

~* Meus 20 anos

Sou tudo que os meus vinte anos me trouxeram. Sou uma coleção de erros, que se aglomeraram e construíram minha essência, minhas certezas, ideologias e caráter. Já fui a prepotência de pensar que sei tudo da vida, hoje eu sou a senhora só da minha razão. Aprendi, aos trancos, a importância da flexibilidade, porque a verdade é só um ponto de vista. Aprendi também a conjugar o verbo ceder, principalmente na primeira pessoa do singular e confesso que esse é um exercício diário. A cada dia aprendo mais e sei menos. Sempre que me aprofundo demais nas coisas, penso automaticamente na frase “a ignorância é uma bênção”. É mesmo. De longe tudo é tão mais bonito e nada dói. Mas sem a dor, talvez eu ainda fosse a garotinha de laço cor de rosa, no pátio do intervalo, tendo certeza que uma gota é o oceano. Eu já teria sido engolida pela imensidão que é viver. Há pouco tempo atrás eu estava planejando a minha vida adulta e, de repente, já não posso mais transferir minhas responsabilidades e culpas pra amanhã. E foi muito difícil conseguir me posicionar pro mundo. Pra todo mundo tão viciado em apontar o dedo, ignorar os acertos e te crucificar pelo resto da vida pelos erros, mesmo se forem pequenos. Já me apaixonei por caras desinteressantes e jurei que eram os amores da minha vida. Já acreditei em promessas absurdas, em absolutamente tudo que me era dito, porque nunca entendi a necessidade de mentir. Mas as pessoas precisam e é isso, não tem por que. Fiquei desacreditada. Foi complicado aprender a dizer “Não” e pareceu impossível prolongar a sentença: “Não, assim eu não quero. Isso não me faz bem, então não vou deixar que me faça mal. Tchau.” Depois ir embora ficou tão fácil, que a dificuldade era ficar. Virei impermanente. Tentei segurar as mãos de pessoas que tentavam segurar o mundo, fiquei sem forças, odiei a liberdade. De vodka em vodka, vazio em vazio, me vi abraçando o mundo também. Virei libertina. Com o mesmo discurso de desapego e vida breve que eu sempre detestei, mas começou a fazer muito sentido e me parecia muito justo levando em conta o gosto de cada lágrima que eu já senti. Voar não doía, viciei. E no céu, entre as nuvens, é muito fácil confundir valores, embaralhar as prioridades e se perder. Eu também quase me perdi. Amigo de balada não é amigo. Meus amigos de verdade são parte de mim e merecem o topo das minhas prioridades. Amores não são necessariamente pra sempre e quando acaba, não quer dizer que não deu certo ou que não foi amor. Histórias inesquecíveis e lindas podem ser curtas. Minha família é o meu chão, o bem mais precioso que eu tenho na vida. Não vale a pena se fechar pro mundo, porque as coisas boas são tão maiores que as ruins. Por fim, estou aprendendo que desapego é uma dádiva, de fato. Faz milagres, mas exige uma certa precaução e medida. A gente tende a querer desapegar de Deus e o mundo, quando deveria desapegar só do que faz mal. Felicidade não é uma utopia ou um amanhã que sempre fica pra amanhã. Felicidade é agora, é cada minuto com quem quer meu bem, quem tá do meu lado. Felicidade é ser quem eu sou, quem eu me transformei, em meio à tanta esquina errada e gente querendo me puxar pra trás. Hoje eu sou livre. E não estou me referindo à status de relacionamento não. Sou livre porque me despi dos meus medos, das minhas culpas e armaduras. Porque me desculpei por não ser perfeita e parei de me cobrar isso. Sou livre pra escolher meu destino, mudar de opinião e me reinventar sempre que achar necessário. Sou livre e aceito as minhas consequências, porque aprendi a ter e viver meus vinte anos.

~* O vazio pesa toneladas

Ninguém sabe mas eu luto todos os dias. Pra não acabar virando pequena, medíocre, covarde, egoísta, hipócrita... pra não virar um monstro, criação dessa gente toda que eu sempre abominei. Deus me livre. E que Ele também enfraqueça todos os meus impulsos de pagar na mesma moeda suja, fazer o mesmo jogo baixo por uma vitória vazia, é só o que eu peço, baixinho. Sou metida a dona da verdade, senhora da razão, chamem como soar mais bonito, eu sei, sou mesmo. Mas procuro apontar o dedo pra mim com muito mais julgamentos do que pra qualquer outra pessoa. A mudança começa na gente, eu sempre soube, mas me controlar é difícil até pra mim mesma. Não faz muito tempo, andei reparando que eu abaixei a guarda sem perceber, me distraí, me rendi sem querer. Estava muito mais próxima do que eu tenho horror do que das coisas que eu sempre lutei a favor e não sei em que momento exatamente essa transição aconteceu, mas fico feliz por ter percebido a tempo. Me concentrei tanto em táticas e equipamentos de defesa cega, de tudo e de todos, que acabei me deixando corromper. Quem roubou minha coragem, minha natureza de dar a cara a tapa, eu acho que nunca vou saber... Mas sei quem me fez olhar bem fundo no espelho e repensar se era aquela imagem refletida que eu queria ser, que eu construí, que eu admiro. Hesitar foi a pior resposta que eu poderia ter tido. Sou forte, novas feridas já não sangram, mas e aí? Estou cinza. Minha força nunca foi essa, nunca foi bruta. E a partir de hoje eu vou dar início ao processo de enfraquecer. Porque ser assim, não sendo, não vale a pena. Vou procurar um meio termo, uma posição saudável, não sei. Mas não sentir dor também dói, porque aqui dentro fica tudo oco e o vazio pesa toneladas. Não sentir não me pertence, porque depois de estar dos dois lados eu tive certeza que as minhas crenças e ideologias de antes, puras e anteriores a todo o sangue derramado, eram quem eu realmente sou e o que eu acredito. Isso aqui agora é só cara de mau pra me poupar de tudo que eu viveria de peito aberto, se fosse ontem. Então chega de corpo, mente e alma fechados. Vida, vem cá, que eu voltei!